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Obesidade em Ratos: causas, efeitos e prevenção

  • Foto do escritor: Rosana Santos
    Rosana Santos
  • 11 de out.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 15 de out.

A obesidade em ratos é uma condição metabólica que ocorre quando há acúmulo excessivo de gordura corporal em consequência do desequilíbrio entre o consumo e o gasto de energia. Quando o rato ingere mais calorias do que consegue utilizar nas suas atividades diárias, o corpo passa a armazenar o excesso em forma de gordura, principalmente na região abdominal. Esse processo, quando mantido por longos períodos, altera o metabolismo, afeta o equilíbrio hormonal e compromete o funcionamento de órgãos importantes como o fígado, o coração e os pulmões.


Trata-se de uma condição comum em ratos domésticos, especialmente naqueles que vivem em ambientes com pouca oportunidade de movimento e recebem alimentação abundante e calórica. O corpo do rato, que evoluiu para aproveitar ao máximo os períodos de disponibilidade de alimento, responde ao excesso armazenando energia em forma de gordura. Assim, uma dieta rica, somada à falta de estímulos físicos e mentais, leva o animal a ganhar peso de maneira gradual e constante.


A obesidade não é apenas um aumento de peso visível. É um distúrbio que afeta o organismo de forma sistêmica, reduzindo a capacidade respiratória, a resistência imunológica e a eficiência metabólica. Com o tempo, o acúmulo de gordura interfere na circulação sanguínea, dificulta a regulação da temperatura corporal e aumenta a predisposição a doenças crônicas, como tumores e distúrbios hormonais. Por isso, compreender e prevenir a obesidade é essencial para garantir longevidade e qualidade de vida aos ratos.


Causas


A obesidade em ratos é o resultado de múltiplos fatores que interagem entre si. Entre as causas primárias, destacam-se a ingestão calórica excessiva, o sedentarismo e o manejo alimentar incorreto. Dietas com alto teor calórico, combinadas à baixa oferta de fibras, levam ao aumento da adiposidade e a distúrbios metabólicos como resistência à insulina e hiperlipidemia.


Estudos controlados com ratos de laboratório demonstraram que dietas hiperlipídicas, contendo entre 40% e 60% das calorias provenientes de gordura, induzem obesidade em poucas semanas, acompanhada por aumento do peso corporal, hipertrofia dos adipócitos e alterações na sensibilidade à insulina (Buettner et al., 2007; Woods & Seeley, 2011).


Além da dieta, o ambiente doméstico exerce papel essencial. Gaiolas pequenas, ausência de níveis, brinquedos e oportunidades de exploração reduzem o gasto energético. A disponibilidade constante de ração, sem controle de porções, também contribui para o ganho de peso.


Fatores hormonais e fisiológicos também têm influência relevante no desenvolvimento da obesidade. Alterações na produção de hormônios como leptina, insulina e corticosterona afetam o apetite, a utilização de energia e o armazenamento de gordura. Em fêmeas, variações hormonais associadas ao envelhecimento, à gestação, à lactação ou a tumores mamários e ovarianos favorecem o acúmulo de tecido adiposo. Em machos, o excesso de gordura corporal reduz a testosterona circulante e o metabolismo basal, dificultando o controle de peso. O envelhecimento, por sua vez, diminui naturalmente o gasto energético e a eficiência metabólica, aumentando a propensão ao ganho de peso mesmo em animais mantidos sob dieta equilibrada. Quando somados ao manejo inadequado e à inatividade, esses fatores estabelecem um ciclo progressivo de acúmulo de gordura e desequilíbrio metabólico.


Efeitos e consequências


A obesidade causa uma série de alterações fisiológicas e sistêmicas nos ratos. O excesso de tecido adiposo provoca inflamação crônica de baixo grau, caracterizada pela liberação de citocinas inflamatórias (TNF-α, IL-6, leptina e resistina), que interferem na sinalização da insulina e favorecem o desenvolvimento de resistência periférica à glicose.


A literatura científica demonstra que ratos obesos apresentam hiperinsulinemia compensatória, aumento da glicemia de jejum e disfunção endotelial (Woods & Seeley, 2011). O fígado é um dos órgãos mais afetados, desenvolvendo esteatose hepática e lipidose microvesicular, condições análogas à doença hepática gordurosa não alcoólica em humanos.


O sistema musculoesquelético também sofre. O excesso de peso sobrecarrega as articulações e predispõe à pododermatite ulcerativa, especialmente quando o substrato da gaiola é duro ou abrasivo. O aumento de peso corporal reduz a agilidade e a capacidade de higiene, levando à retenção de urina e maior risco de infecções cutâneas e urinárias.


A obesidade ainda interfere na termorregulação. Ratos obesos apresentam maior sensibilidade ao calor devido à menor eficiência na dissipação térmica, o que pode causar hipertermia em ambientes quentes. Em fêmeas, há evidências de que o sobrepeso aumenta a incidência de tumores mamários e altera a regulação hormonal, favorecendo a proliferação de tecido glandular anormal (Bradley et al., 2009).


Prognóstico


O prognóstico de um rato obeso depende do estágio da condição e das complicações associadas. Quando detectada precocemente, a obesidade pode ser revertida com ajuste alimentar e aumento gradual do nível de atividade física. A redução do peso corporal melhora parâmetros metabólicos, reduz o risco de doenças hepáticas e cardiovasculares e restaura a vitalidade.


Entretanto, em casos crônicos, as alterações estruturais no fígado e no pâncreas podem se tornar permanentes, comprometendo a função metabólica. Ratos com obesidade severa apresentam maior mortalidade em cirurgias, resposta imune reduzida e recuperação lenta de ferimentos. Em casos de pododermatite, o tratamento pode ser longo e exigir acompanhamento veterinário contínuo.


A perda de peso deve ser sempre gradual, para evitar lipólise excessiva e sobrecarga hepática. Protocolos de redução calórica de 10% a 15% por semana são considerados seguros, desde que o rato continue recebendo todos os nutrientes essenciais.


Prevenção e manejo


A prevenção da obesidade é baseada em três pilares: nutrição adequada, manejo ambiental e monitoramento constante.


A alimentação deve ter como base uma ração balanceada específica para ratos, contendo de 11% a 18% de proteína, 4% a 6% de gordura e aproximadamente 5% a 10% de fibra total, conforme os parâmetros do National Research Council (1995). Diferentemente de outros nutrientes, a fibra não possui um valor absoluto de exigência, pois sua necessidade depende do tipo, da digestibilidade e da função fisiológica que exerce. Fibras insolúveis ajudam no trânsito intestinal e no desgaste dentário, enquanto as solúveis favorecem a microbiota e a absorção de nutrientes. O equilíbrio entre essas frações é mais importante do que a quantidade exata.


Frutas, verduras e legumes frescos podem ser oferecidos em pequenas porções até duas vezes por semana, representando uma fração menor da dieta. Esses alimentos fornecem vitaminas, minerais e antioxidantes importantes, mas quando oferecidos em excesso aumentam a carga calórica e a umidade da dieta, o que pode favorecer distúrbios digestivos e ganho de peso.


Petiscos devem ser considerados ocasionais e controlados. Sementes oleaginosas, massas, queijos e alimentos humanos são altamente calóricos e devem ser evitados.


Outra medida importante é evitar o uso de pratos fixos de alimentação. Ratos que recebem a ração em tigelas ou comedouros tendem a comer mais rapidamente e gastar menos energia. O ideal é estimular o comportamento natural de forrageamento, espalhando pequenas porções de alimento pela gaiola, escondendo em caixas de papel, entre tecidos ou em brinquedos próprios para busca. Essa estratégia mantém o rato ativo, reduz a ansiedade e ajuda no controle do peso, ao mesmo tempo em que promove bem-estar psicológico e físico.


O enriquecimento ambiental é essencial para manter o gasto energético e a saúde mental. Gaiolas amplas, com níveis, túneis, redes e brinquedos que estimulem escalada e exploração, reduzem o sedentarismo e melhoram o comportamento. Sessões de interação fora da gaiola, supervisionadas, são excelentes para o estímulo físico e emocional.


A pesagem semanal é uma ferramenta simples para o tutor ou criador acompanhar o estado corporal dos ratos. Mudanças de mais de 10% no peso em poucas semanas indicam necessidade de ajuste alimentar.


Em casos de obesidade instalada, a reeducação alimentar deve ser feita gradualmente, com ração de manutenção e aumento do tempo de forrageamento, para que o rato gaste mais energia procurando o alimento.


Considerações finais


A obesidade em ratos é uma doença metabólica evitável, mas que exige responsabilidade e conhecimento. Ela reflete desequilíbrios na nutrição, na rotina e no ambiente, e compromete não apenas o corpo, mas também o comportamento e o bem-estar geral.


Prevenir é mais eficaz do que tratar. A combinação de uma dieta equilibrada, ambiente estimulante e acompanhamento veterinário especializado é a forma mais segura de garantir longevidade e qualidade de vida.


Ratos mantidos com peso corporal ideal vivem mais, sofrem menos com doenças crônicas e apresentam comportamento mais ativo, curioso e confiante. Cuidar do equilíbrio é cuidar da vida.




Referências científicas


  • National Research Council (NRC). Nutrient Requirements of Laboratory Rats. Washington, DC: National Academies Press, 1995.

  • Buettner R., Schölmerich J., Bollheimer L. C. High-fat diets: modeling the metabolic disorders of human obesity in rodents. Obesity (Silver Spring). 2007;15(4):798–808.

  • Woods S. C., Seeley R. J. Understanding the physiology of obesity: lessons from rats. Physiol Rev. 2011;91(2):459–481.

  • Bradley A. et al. Obesity and its impact on pododermatitis and musculoskeletal stress in rats. Lab Anim Sci. 2009;59(4):329–338.

  • Merck Veterinary Manual. Routine Health Care of Rats. Acesso em 2025.

  • RatGuide.com. Nutrition and Obesity in Rats. Acesso em 2025.

  • Rachiesratirementhome - dispelling-the-rats-cant-eat-citrus-myth

  • NRC, 2011. Guide for the Care and Use of Laboratory Animals. National Academies Press, 8ª ed.





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