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Pododermatite Ulcerativa em Ratos: compreensão clínica, fatores de risco e manejo terapêutico

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  • 2 de out.
  • 4 min de leitura

Embora muitas vezes subestimada, a pododermatite é uma das principais causas de desconforto, dor crônica e limitação de mobilidade em ratos domésticos. Em casos mais graves, pode evoluir para osteomielite, septicemia e até óbito, especialmente quando o tratamento é iniciado tardiamente ou o manejo é inadequado. Isso não significa que todos os casos irão progredir dessa forma, mas em situações mais críticas essa evolução pode ocorrer. A evolução clínica varia conforme o estado geral do paciente, a resposta imunológica, a idade e a presença de comorbidades.


Ratos obesos, com doenças crônicas ou infecções pré-existentes apresentam maior risco de complicações e menor capacidade de regeneração tecidual. Por isso, o diagnóstico precoce, o manejo correto e o acompanhamento veterinário especializado são fundamentais para um bom prognóstico e recuperação satisfatória.


rato com pododermatite
PODODERMATITE

Fisiopatologia e desenvolvimento da lesão


O processo patológico da pododermatite inicia-se geralmente com uma irritação mecânica na epiderme plantar. A pressão contínua, somada a microtraumas, causa isquemia tecidual e ruptura da barreira cutânea. A partir desse ponto, bactérias oportunistas como Staphylococcus aureus, Corynebacterium kutscheri e Pseudomonas aeruginosa encontram ambiente propício para proliferação, levando à formação de abscessos e necrose focal.


PODODERMATITE ULCERATIVA EM RATOS
PODODERMATITE ULCERATIVA

Com a progressão, há perda da integridade epidérmica, inflamação profunda e ulceração. Em estágios avançados, o processo atinge o tecido subcutâneo e estruturas ósseas, com desenvolvimento de osteomielite e fibrose, caracterizando quadros crônicos de difícil reversão.


Estudos histopatológicos (Mecklenburg et al., 2013) descrevem infiltrado inflamatório misto, necrose coagulativa e hiperqueratose (espessamento anormal da camada mais externa da pele), indicando resposta inflamatória persistente e tentativa de reparação tecidual ineficiente.


Fatores predisponentes


A etiologia da pododermatite é multifatorial, envolvendo aspectos nutricionais, ambientais e fisiológicos:


Superfícies inadequadas

O uso de pisos de grade metálica ou malha rígida é uma das principais causas. A literatura demonstra incidência significativamente maior de lesões plantares em ratos mantidos em gaiolas com fundo de fio, devido à fricção e pressão localizada (Mecklenburg et al., Toxicol Pathol, 2013).


Obesidade e sedentarismo

O excesso de peso aumenta a pressão sobre as regiões plantares, especialmente nas patas traseiras, levando à formação de calos e ulcerações. A obesidade é também associada a alterações metabólicas que comprometem a cicatrização.


Higiene ambiental deficiente

A presença constante de urina e fezes favorece a maceração da pele e proliferação bacteriana. Ambientes úmidos e mal ventilados são fatores agravantes documentados (Eshar et al., 2020).


Deficiências nutricionais e desequilíbrios metabólicos

Carências de zinco, vitamina E e ácidos graxos essenciais prejudicam a integridade da pele e reduzem a capacidade de regeneração tecidual.


Predisposição individual e idade

Ratos idosos apresentam maior risco devido à perda de elasticidade cutânea e redução na perfusão periférica. Animais com histórico de ferimentos plantares ou distúrbios locomotores também são mais susceptíveis.


Sinais clínicos e diagnóstico


Os sinais clínicos variam conforme o estágio da doença. Nos estágios iniciais, observam-se eritema, espessamento da pele e calosidades discretas. Com a evolução, surgem úlceras abertas, crostas espessas, exsudato purulento e dor evidente ao caminhar.


O diagnóstico é clínico, baseado em inspeção direta e histórico de manejo. Radiografias podem ser úteis nos casos avançados para avaliar comprometimento ósseo, e exames bacteriológicos podem confirmar infecção secundária e orientar antibióticoterapia.


Prognóstico


O prognóstico é variável. Casos leves e diagnosticados precocemente costumam apresentar boa resposta ao tratamento e cicatrização completa. Já as lesões ulceradas profundas, com infecção óssea, tendem a evoluir para cronicidade, com risco de amputação ou recidiva.


O sucesso terapêutico depende fundamentalmente da correção dos fatores predisponentes e da adesão ao manejo ambiental adequado.


Abordagem terapêutica e manejo clínico


O tratamento da pododermatite em ratos requer uma abordagem combinada, que una higiene, controle de infecção, suporte mecânico e reabilitação ambiental.


1. Higienização e desbridamento

As lesões devem ser lavadas com solução antisséptica suave (clorexidina 0,05–1%) ou soro fisiológico. Crostas e tecidos necrosados devem ser removidos cuidadosamente, evitando trauma adicional.


2. Terapia antimicrobiana

Feridas com sinais de infecção requerem antibióticos sistêmicos prescritos por veterinário especializado em animais exóticos. A escolha deve ser guiada por cultura e antibiograma sempre que possível.


3. Controle da dor e inflamação

O manejo da dor é essencial. Analgésicos e anti-inflamatórios seguros para roedores devem ser utilizados sob supervisão profissional para garantir conforto e reduzir o estresse.


4. Modificação ambiental

O piso deve ser substituído por material macio e absorvente (pano de algodão, papel reciclado ou tecido lavável). Evite grades e substratos abrasivos. O ambiente deve permanecer seco e higienizado diariamente.


5. Controle nutricional e de peso

A perda gradual de peso é crucial em ratos obesos. Reduzir o aporte calórico, ajustar a ração e oferecer forrageamento controlado estimula movimento e ajuda a reduzir pressão nas patas.


6. Fisioterapia e reabilitação comportamental

Permitir movimentação segura fora da gaiola, em superfícies macias, ajuda na circulação periférica e no bem-estar geral. O forrageamento terapêutico é uma excelente estratégia para promover gasto energético sem sobrecarga.


Prevenção e manejo a longo prazo


A prevenção é sempre o melhor tratamento.Rações balanceadas, controle de peso, higiene rigorosa e substratos adequados reduzem drasticamente a incidência de pododermatite. O tutor deve observar regularmente as patas do rato, especialmente em animais idosos ou com histórico de obesidade.


A inspeção semanal das plantas dos pés é uma medida simples que permite detectar lesões precoces e evitar complicações. Ambientes amplos, secos e com estímulo físico constante também auxiliam na manutenção da integridade cutânea.






Referências científicas

  • Mecklenburg, L., et al. (2013). Proliferative and Non-Proliferative Lesions of the Rat and Mouse Skin. Toxicologic Pathology, 41(4S), 7–37.

  • Blair, J. (2013). Bumblefoot: A Comparison of Clinical Presentation and Treatment of Pododermatitis in Rabbits, Rodents, and Birds. Journal of Exotic Pet Medicine, 22(4), 347–353.

  • Eshar, D., et al. (2020). Dermatologic Diseases in Pet Rats: A Retrospective Study of 100 Cases. Frontiers in Veterinary Science, 7, 123.

  • RatGuide.com (2024). Ulcerative Pododermatitis (Bumblefoot) in Rats. Disponível em: https://ratguide.com/health/integumentary_skin/dermatologic/ulcerative_pododermatitis.php



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